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Desigualdades de renda e escolaridade no uso de serviços médicos especializados dois anos após a infecção aguda por Covid-19: evidências do estudo longitudinal SulCovid
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Autora: Francine moralles de Oliveira (Currículo Lattes)
Resumo
Introdução: A pandemia de Covid-19 expôs e, em diversos contextos, acentuou desigualdades no acesso e utilização dos serviços de saúde. No Brasil, variáveis socioeconômicas, como renda e escolaridade, exercem papel determinante na busca e no uso de cuidados especializados. Objetivo: Analisar as desigualdades de renda e escolaridade no uso de serviços especializados por indivíduos diagnosticados com Covid-19 no sul do Brasil. Método: Estudo longitudinal, baseado na pesquisa SulCovid-19, a qual monitorou indicadores de saúde de indivíduos infectados por Covid-19 em Rio Grande, RS, entre 6 e 24 meses após a infecção. A coleta de dados na linha de base ocorreu de junho a outubro de 2021, e o acompanhamento foi realizado de outubro de 2022 a maio de 2023, envolvendo 2.919 e 1.927 participantes respectivamente. Utilizou-se a Regressão de Poisson para avaliar a associação entre desfechos e exposição, e para avaliar desigualdades relacionadas à renda e à escolaridade, foram utilizados o Slope Index of Inequality (SII) para desigualdade absoluta e o Relative Index of Inequality (RII) para desigualdade relativa, com variáveis contínuas construídas a partir da distribuição cumulativa da renda e escolaridade. Resultados: Os resultados deste estudo evidenciaram desigualdades no uso de serviços especializados de saúde entre indivíduos infectados pela Covid-19 quando analisadas a renda e a escolaridade. Indivíduos com maior renda apresentaram maior uso de serviços especializados, com destaque para atendimentos com (RII = 1,48; IC95%: 1,05-1,92), pneumologistas (RII = 1,41; IC95%: 0,66-2,16) e neurologistas (RII = 0,85; IC95%: 0,40-1,30). Em contrapartida, o uso de serviços psiquiátricos foi maior entre os indivíduos de menor renda (RII = 0,51; IC95%: 0,24-0,77). Quanto à escolaridade, as análises indicaram que não houve desigualdade estatisticamente significativa no uso de serviços especializados de saúde segundo a escolaridade entre indivíduos com infecção por Covid-19. Conclusão: A pesquisa revelou desigualdades na utilização de serviços de saúde especializados por pessoas infectadas com Covid-19, mostrando que aqueles com renda mais alta têm maior acesso. Por outro lado, não foram observadas desigualdades estatisticamente significativas segundo a escolaridade, o que pode refletir diferentes mecanismos de barreiras de acesso ou outros fatores associados ao uso desses serviços. Os achados ressaltam a urgência de políticas públicas que incentivem a equidade no acesso aos serviços de saúde, com o objetivo de diminuir as disparidades entre diferentes grupos socioeconômicos.
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